Sempre há conflito entre as
gerações. Cada uma tem uma característica especial, o que gera uma
identificação comum. Geração X, Y, Z e a nova geração, que muitos andam
chamando de geração Alfa – aquelas que nasceram depois de 2008, são marcadas
por eventos históricos e pelo modo de criação que seus pais as educa.
Esta última é uma geração que tem pais preocupados demais
e super-protetores demais. Sabem dos perigos do mundo e procuram a todo custo
poupar suas crias da tristeza e do desafio que é viver.
O artigo retirado do blog “Pensar Contemporâneo” faz um
recorte e discorre sobre os pais-helicóptero, que são aqueles que ficam o
tempo todo sobrevoando e girando em torno de seus filhos. E nos alerta para os
males que essa proteção excessiva causa nas crianças que ainda estão se desenvolvendo.
Segue o artigo na íntegra:
‘Pais-helicóptero’ são os pais que estão sempre girando
em torno dos filhos. Praticamente os embrulham em plástico-bolha, criando uma
corte de jovens adultos que têm dificuldade de ter um desempenho satisfatório
no trabalho e em suas vidas.
‘Pais-helicóptero’
pensam que estão fazendo o melhor, mas, na verdade, estão prejudicando as
chances de sucesso dos filhos. Em particular, estão arruinando as chances de
que os filhos consigam um emprego e consigam mantê-lo.
‘Pais-helicóptero’ não querem que seus filhos se
machuquem. Querem suavizar cada golpe e amortecer cada queda. O problema é que
essas crianças superprotegidas nunca aprendem como lidar com a perda, com o
fracasso ou com o desapontamento — aspectos inevitáveis da vida de todos.
A superproteção torna quase impossível que esses jovens
desenvolvam a tolerância em relação à frustração. Sem esse importante atributo
psicológico, os jovens entram na força de trabalho em grande desvantagem.
‘Pais-helicóptero’ fazem coisas demais pelos filhos, portanto,
essas crianças crescem sem uma ética de trabalho saudável e sem habilidades
básicas. Sem essa ética de trabalho e habilidades necessárias, o jovem não será
capaz de realizar muitas das tarefas exigidas pelo local de trabalho.
‘Pais-helicóptero’ superprotegem seus filhos e os privam
de qualquer consequência significativa por suas ações. Com isso, eles perdem a
oportunidade de aprender lições de vida valiosas a partir dos erros que
cometem; as lições de vida que iriam contribuir para sua inteligência emocional.
‘Pais-helicóptero’ protegem
suas crianças de qualquer conflito que possam ter com seus colegas. Quando
essas crianças crescem, não sabem como resolver dificuldades entre eles e um
colega ou supervisor.
As pessoas resolvem problemas tentando coisas, cometendo
erros, aprendendo e tentando novamente. Esse processo cria confiança,
competência e autoestima. ‘Pais-helicóptero’ impedem que seus filhos
desenvolvam todos esses importantes atributos que são necessários para uma
carreira de sucesso.
‘Pais-helicóptero’ pensam que seus filhos devem vencer
qualquer coisa. Todo mundo que participe de um evento esportivo deve ganhar um
troféu. Todos devem conseguir uma nota de aprovação, mesmo que sua tarefa
esteja atrasada ou malfeita.
Em um local de trabalho funcional, há apenas um vencedor
de uma competição, e apenas um trabalho de alta qualidade é recompensado. Se as
crianças crescem pensando que independentemente do que façam irão vencer, não
perceberão que, na verdade, têm de trabalhar duro para conseguir ter sucesso.
Esses jovens mimados ficarão arrasados quando continuarem
perdendo competições, se saindo mal em entrevistas ou sendo demitidos de seus
empregos. Não entenderão quanto esforço é realmente necessário para ser um
vencedor no mundo do trabalho.
Esses jovens carecem de competência e ação por nunca
terem tido de resolver um problema ou completar um projeto sozinhos. Esperam
que outros façam essas coisas para eles, assim como seus pais sempre fizeram.
Em essência, não podem pensar ou agir por si mesmos.
A criação-helicóptero inculca uma série de atitudes
negativas nas crianças. Elas crescem com grandes expectativas de sucesso,
independentemente de quanto tempo ou energia investem, e sentem que merecem
tratamento preferencial — sendo que nenhum dos dois comportamentos cai bem com
seus colegas ou chefes.
Em uma entrevista de emprego, os futuros empregadores
podem ser dissuadidos pela atitude excessivamente egocêntrica de um jovem ou
alarmados por sua falta de habilidades básicas.
A aura de ignorância e incompetência de um jovem,
combinada com expectativas de recompensas imediatas e substanciais sem relação
com o desempenho, pode ser o beijo da morte em qualquer entrevista para um bom
emprego.
Quando os pais decidem acompanhar seu filho de 20 e
poucos anos em uma entrevista de emprego, isso mina qualquer confiança que um
empregador possa ter nesse funcionário em potencial. “Por que”, os empregadores
podem se perguntar, “alguém procurando emprego precisaria trazer a mamãe ou o
papai na entrevista, a menos que esse jovem seja mais uma criança do que um
adulto?”.
Mesmo de pequenas maneiras, os ‘pais-helicóptero’
paralisam seus filhos. A criança adulta de ‘pais-helicóptero’ vai fazer sua
pausa para o café e então sair da copa sem ter limpado sua sujeira ou lavado sua
xícara. Podemos imaginar como isso causará ressentimento entre seus colegas.
Esses jovens esperam que “alguém” limpe sua coisas, da
mesma forma que sua sujeira foi sempre limpada quando eram crianças. Não
percebem que já não há ninguém os seguindo, limpando sua sujeira, seja física,
interpessoal ou profissional.
Barb Nefer, em um artigo publicado no site WebPsychology,
diz que a geração do “milênio está sendo fortemente atingida pela depressão no
trabalho. Um em cada cinco trabalhadores [20%] já sofreu de depressão no
trabalho, comparado a 16% da Geração X [nascidos entre 1960 e final dos anos
70] e dos ‘baby boomers’ [nascidos entre 1943 e 1960]”.
Nefer destaca que, de acordo com um “‘white paper’ da
Bensinger, DuPont & Associates, os ‘millennials’ têm desempenho inferior no
trabalho e índices mais altos de absenteísmo, bem como mais conflitos e
incidentes de advertência por escrito”, fatores que “podem afetar o desempenho
no trabalho”.
De acordo com um artigo de Brooke Donatone publicado pelo
Washington Post, uma nota de 2013 na revista “Journal of Child and Family
Studies revelou que universitários que tiveram criação-helicóptero relataram
níveis mais altos de depressão”.
O artigo do Washington Post também destaca que uma
“criação intrusiva interfere no desenvolvimento da autonomia e da competência.
Por isso, a criação-helicóptero leva a uma maior dependência e menor habilidade
de completar tarefas sem supervisão dos pais”.
Às vezes, a melhor forma de ‘estar presente’ na vida dos
filhos é não estar.
Os artigos acima deixam claro
que a ‘criação-helicóptero’ está contribuindo para um crescente índice de
depressão entre jovens bem como para uma incapacidade de ter um desempenho
otimizado no local de trabalho.
Se você é um pai ou uma mãe
que quer que seus filhos sejam bem-sucedidos na carreira quando adultos,
precisa estar ciente de quaisquer tendências relacionadas à criação-helicóptero
em você ou em seu parceiro.
Amar seus filhos significa guiá-los, protegê-los e
apoiá-los. Não significa sufocá-los, superprotegê-los ou fazer tanto por eles
que nunca aprendam a pensar por si mesmos, a lidar com desafios ou com o
desapontamento e fracasso.
A coisa mais amorosa que você pode fazer como pai ou mãe
é dar um passo atrás e deixar seu filho cair, se preocupar e resolver as coisas
sozinho. Às vezes, a melhor forma de “estar presente” na vida de seu filho é
não estar. É assim que você os capacita a desenvolver confiança, competência,
autoestima e inteligência emocional.
Hoje os jovens precisam de pais que os ajudem a se tornar
adultos úteis. Isso significa girar menos em torno deles e embrulhá-los menos
em plástico-bolha e empoderá-los mais para que façam coisas por si mesmos,
resolvam coisas por si mesmos e aprendam a lidar com as dificuldades, tudo por
si mesmos.
Referências:
http://www.pensarcontemporaneo.com/2024-2/